terça-feira, 3 de outubro de 2023

Se não houver cães no céu, então, quando morrer, quero ir para onde eles forem!

 



E a Maria Inês chegou em julho, 19!

      

   Já não sei há quanto tempo que não venho aqui... Mas estas conversas fazem-me falta!
      Nasceu a MI, o Domingos casou-se com a Rita e a Cuca estás nas últimas. Morreu o Zé João em abril, o Luís em maio... E a vida continua com as suas voltas e reviravoltas.
     Voltarei para falar da minha Cuca, uma preciosidade, treze anos da minha vida. Veio na altura certa, e vai-se na altura em que deve ir para não sofrer mais. Somos mais humanos com os nossos animais do que com os nossos humanos, somos capazes de aliviar o seu sofrimento, enquanto que com os nossos humanos dizemos que foram muito valentes e que aguentaram até ao fim. 
      Se não houver cães no céu, então, quando morrer, quero ir para onde eles forem!
       Mas, «Um dia, vamos ver os nossos animais novamente na eternidade de Cristo. O paraíso está aberto a todas as criaturas de Deus», disse o Papa Francisco. E eu acredito no Papa Chico!

     Voltarei...

domingo, 19 de junho de 2022

Babá!

       Ouvir os meus netos a chamar por mim «Babá!» é precioso. Os espanhóis usam devidamente este adjetivo, já nós, somos demasiado preciosistas para o fazer, mas é o que é: precioso, efémero...

      O Tomás chegou em setembro, em plena pandemia, há quase dois anos, foi o tempo em que deixei o blogue a pairar na rede, olhava de vez em quando para o ícone, mas não abria, deixa-o estar que estás bem assim. Mas não estou, nem estive. Trancados meses a fio em casa com medo do COVID, que nome esse, que praga! Máscaras, medo, uma merda. Trabalho no computador, pais a meterem-se nas minhas aulas, gente mal formada, mal educada, sem escrúpulos, um inferno pegado. O que podia ter sido uma experiência a manter pelo grau de diferença que se impôs, recurso a todas as novas tecnologias ao nosso dispor, foi um motivo para ingerência no nosso trabalho, na nossa casa, nas nossas vidas. E ainda não passou, a puta da pandemia, ainda anda por aí, como o outro. Mas o que ela nos trouxe foi uma vontade imensa de sair. Sempre a querer, desesperadamente, sair de casa, dormir e comer fora, longe de Évora... Foram dois anos de gastos imensos em dormidas e comidas, que me souberam lindamente, mas convenhamos que não é possível manter este luxo, não somos ricos, o que é uma pena. Tem sido bom e aproveitei todos os pedacinhos, bocadinhos de tudo. A última noite foi no palácio de Queluz, terra sem encanto, depois de um almoço em Peniche, terra suja, mal cheirosa e feia, de que nunca gostei. gostava das idas ao Baleal, onde era sempre bem recebida até deixar de ter vontade de lá voltar. O Afonso perdeu a madrinha e eu uma (suposta) amiga, que não percebia por que é que eu continuava com o Domingos. Foi melhor assim, preferi perder a madrinha do Afonso a perder o Domingos, por mais dificuldades financeiras que pudéssemos ter.


    Vale tudo para estar com os meus pequeninos, quase tudo, porque não quero que fiquem fartos de mim, de me ter de volta deles o tempo todo, mas o certo é que ganho tempo de vida quando estou com eles e definho aqui...  O calor, cada vez mais insuportável, gasta-me, desgasta-me, os silêncios matam-me devagar, a passo certo. Depois vem um «Babá!» e o meu coração dispara! Os meus amores mais pequeninos, os grandes já não são como eram, vão-se entre os meus dedos, escorrem. Mas é assim, fazemos escolhas, todos as fazemos. Nas minhas, tenho excluído muitos daqueles que fizeram parte da minha vida, por esta ou aquela razão, tornaram-se dispensáveis ou indispensável serem dispensadas. A mãe dizia para eu não ser assim, porque poderia vir a precisar das pessoas, mas nunca segui o conselho, não me pareceu adequado. Os amigos não são para as ocasiões, esses são os conhecidos. Por isso, tenho uma coleção de conhecidos e uma mão cheia de amigos, não preciso de mais. Diz-se que a quantidade de  amigos de alguém a define, quantos mais melhor pessoa! Será! Nem questiono, o que faz de mim uma pessoa poucochinho, certamente com poucas qualidades, acredito que sim. 

    No entanto, aqui estou! Voltei, melhor, é certo, mas sem estar bem, prozacodependente, sem muita vontade para muita coisa, um pouco preguiçosa no que respeita o que não me apetece, mas dedicada às minhas paixões, sempre. Sempre à espera (MAS NÃO SENTADA) do que não tenho e quero, agarrada ao que tenho e que não quero perder, sem lágrimas, secaram para e por alguns. De braços abertos para abraços para aqueles de quem gosto muito, os abraços também são preciosos.


sábado, 18 de junho de 2022

Hei de voltar melhor... porque melhor do que isto não há...

E já vai tarde... enterrar fantasmas.#metoo

https://www.publico.pt/2022/06/18/culturaipsilon/noticia/joao-rui-sousa-19282022-poeta-elegancia-classica-2010508

sexta-feira, 5 de junho de 2020

thegiganticchange.com

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domingo, 18 de agosto de 2019

O que me faz feliz?



            Quando me lembro das férias dos Costa Santos/ Burnays na Ericeira só me lembro dos gritos da tia Lourdes e do tio Henrique e das queixas da tia Manela. Era assim todos os anos. Alugavam uma casa para estarem juntos e, ao fim de um dia, já estavam todos aos gritos! Com a minha mãe e eu era igual, no próprio dia já estávamos pegadas, valia tudo. Connosco não seria assim... Até porque não somos assim...
           Acho que somos piores... As férias são para a família, em família... Mas até que ponto queremos que assim seja...
          Adoro-os, ao ponto de deixar de ser racional. Fico em êxtase por pensar que vamos estar todos juntos, como imaginei a vida toda. Mas imagino que eles não o tenham imaginado assim. Sou uma boa ouvinte, muito boa, confirmado por uma opinião médica, para a minha idade oiço muito bem! «Estas não são as minhas férias», «Podemos dormir todos na sala», «Como não há pessoas a mais, estou a dormir num colchão!»... E por aí fora! Fico possessa, furiosa, furibunda! Porquê?
          Não li o artigo de opinião do MEC (que venero!), ele dizia que por pensar que as pessoas de quem gostamos só têm mais um dia de vida que nos tornaríamos melhores pessoas. Eu disse ao Domingos, penso que foi a primeira coisa que lhe disse depois de ser atropelada, que não queria que nos zangássemos mais, era terrível o pensamento de deixar de ver a pessoa que mais amamos neste mundo, para nunca mais a ver, depois de uma zanga. Sim... Mas, não... As zangas continuaram, continuam... E já veio um cancro para ajudar à festa! E mesmo assim, todos podem dizer o que querem, porque eu faço perguntas, presumo que não há assuntos tabu, que ser mãe é um posto que me dá o estatuto de poder dizer o quanto gosto e quero... Mas não posso. Não mo deixam. «Ó mãe, não é assim!», «Ó mãe, não pode dizer essas coisas!», «Ó mãe, já imaginou que ela pode não querer...»... Ó merda! Já pensaram que não têm esse direito? O tempo não vos pertence! Mas a vossa vida sim... E nessa eu não quero interferir. E, assim, escolho a distância, essa eu controlo, essa pertence-me... 
         Não sou uma católica fervorosa, mas sou intrinsecamente cristã, e obedeço religiosamente ao meu lema «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti», até, porque, a mim, me têm feito muito do que eu agradecia que não me tivessem feito. Tenho sempre isso em mente, ponho-me no lugar dos outros com muita facilidade... E todas as noites, quando rezo, aquilo que eu peço, e peço pouco, é que Deus me ajude a ser uma melhor pessoa. Melhor professora, melhor ser humano, melhor mãe, melhor pessoa, no fundo. Tenho sempre dificuldade em rezar o Pai Nosso, sou mais devota de Nossa Senhora. No Pai Nosso devia dizer «perdoai-nos assim como perdoamos a  quem nos tem ofendido» e aqui  reside um problema, não consigo. Principalmente quando os que nos ofendem o fazem conscientemente, deliberadamente, por opção. Não consigo. Resisto quando se trata do meu marido, amor da minha vida, e dos meus filhos que adoro. Fico devastada, completamente devastada, magoada, de tal forma que demoro uma eternidade a reerguer-me, mas sei que o farei. Já os outros... Prefiro não rezar o Pai Nosso.

terça-feira, 30 de julho de 2019

Helena, obrigada por existir...

              Ouvir isto de alguém... É tão bom, tão comovente... Este ano foi difícil, mais um com dramas pessoais, tão duros, tão injustos. Perder um aluno, uma turma arrasada pela perda, miúdos pequenos para quem esta foi a primeira perda. Ir com eles à igreja, estar no mesmo espaço em que está um corpo de uma criança com quem convivemos, com os familiares inconsoláveis, um destroço de vida. Como explicar que a morte faz parte da vida a miúdos, principalmente a morte de um miúdo. 
          Sábado de manhã, toca o telefone, «Lena, está em casa? Posso ir aí?». Claro, vem... «O meu primo está em morte cerebral e eu não sei o que hei de fazer.». Ó miúda, não tens de fazer nada, só tens de ser como és, uma miúda querida... E correu bem. Foi para casa mais tranquila, já eu não, fiquei lavada em lágrimas mas orgulhosa por ela se ter lembrado de mim, quando quis sair de casa para arejar, porque já não aguentava mais. 
             Às vezes, sinto-me tão inútil, tão vazia... E depois há  estas coisas que me preenchem, que dão algum sentido à minha vida. 

Em tempo de férias


          26 de julho, dia dos avós. Um dos bons dias de 2019. Felizmente já houve vários, ao contrário do ano de 2018, um ano terrível. 
           O que me faz feliz? Estar com a minha neta. Estar com os meus filhos. Estar com o Domingos. Nem sempre é assim. Às vezes não é mesmo assim e é um desperdício. Tanto amor para dar, às vezes para nada... É verdade... Mas pondo as coisas em perspetiva, considerando o deve e o haver, há mais momentos de felicidade genuína do que os outros, que dispensava, oh como os dispensava... Mas é assim...
           Véspera de férias, novamente. As últimas foram das piores. Foi inacreditável. Tive férias horríveis na Ericeira, mesmo quando alugava, arrendava, assim é que é, lá casas, ainda foram alguns anos. A primeira vez, fomos para uma casa por cima de um restaurante e de um bar. Uma desgraça, noites mal dormidas e todos em cima uns dos outros, mas não fazia mal, porque foi a primeira vez que tivemos a possibilidade de ir de férias. Já estávamos no Alentejo, longe do mar, por isso qualquer coisa era boa. No ano seguinte, fomos para o último andar no prédio dos gémeos, a Teresinha e o Luís, alunos queridos anos mais tarde com uma história de vida, talvez das mais tristes alguma vez vividas. Nesse ano, nem sei bem porquê, as minhas expectativas estavam ainda mais elevadas, levámos a Noca connosco o que fazia com que a miudagem fosse lá a casa mais do que seria costume. Lembro-me dos gémeos a correr escada acima para ir ver o cão! Mas aquela coisa de irmos todos para a praia depressa se esvaiu... «Aqui só vamos para a praia ao meio-dia...» Pronto, percebi, não é para irmos juntos, pois com bom tempo ou mau tempo, nós respeitamos as horas em que não se deve estar na praia e ao meio-dia é hora de sair da praia e não de entrar. Por isso, «não tamos junto». E foi assim, à tarde, quando voltávamos à praia, estavam eles de saída e às vezes a praia «fechava», pura e simplesmente. Depois começaram as tricas entre as miúdas, os comentários: «meninos, escondam as carteiras», aquele que não paga o toldo, as conversas à parte, o corta na casaca, as bebedeiras à noite, os amigos importantes, aquilo que eu mais detesto... Fartei-me e decidi aproveitar as férias do Cofre, fomos para o Vau. No ano seguinte fomos para o Lago Azul, em Vilamoura, no outro para Vila Nova de Mil Fontes. E teria continuado por aí não fosse a postura irredutível da Inês, «não vou... eu vou para a Ericeira». Entretanto a sogra comprou uma quinta e pensei (mal...) que era para todos! A minha mãe, como de costume, meteu-se onde não era chamada e foi dizer-lhe que eu devia ir de férias para a quinta em agosto. O que ela foi fazer! E fomos, em 2004. O pior ano de todos, aquele em que fiquei a saber que nem para nora quanto mais para professora servia. Fui-me embora, jurei nunca mais voltar. Ainda lá fui uma vez almoçar, depois do cancro, e no ano em que a Noca morreu, mas as memórias assombram-me de tal forma que parece que rebento. Foi o ano em que as coisas correram bem na Ericeira com a mãe. Depois do ano horrível de 2004, chegou o ano horrível de 2005 e com ele o cancro, de mansinho, e o verão foi outra vez uma desgraça. As miúdas começaram a achar que não tinham de prestar contas a ninguém, vésperas de a Inês ir para os Olivais, para a  Faculdade. Chegavam a casa de dia, andavam a noite toda na rua, não davam cavaco a ninguém, não paravam em casa, não ajudavam a ponta de um corno e, ainda por cima, com a cobertura da avó, «despacha-te que a tua tia vem aí...». Disse à minha irmã que não aguentava mais e que me ia embora. A Inês, claro, ficou, e ficou para sempre. Ainda lá está...
             Então, estamos em 2006, em tratamentos, ficava a dormir na pensão Fortunato e os miúdos estavam com a avó. Em 2007 fiquei na Fonte do Cabo. Em 2008 fiquei no Martins, em 2009 numa casa onde mal cabíamos e a Noca morreu. Em 2010 no Martins, novamente, 25 anos de casada. 2011 ainda Martins e depois de o Calado emigrar, e já sem subsídio de férias, por conta do vigarista do Sócrates e das políticas horrendas do Passos Coelho, passei a ficar com a mãe para a Amélia ir trabalhar. Isto até 2014, ano de recuperação do subsídio de férias, ano do casamento da Inês, anos tranquilos na Ericeira, muito tranquilos até. As pazes com a mãe estavam consolidadas, apesar de as coisas com a Amélia já estarem azedas há uns tempos. Mas a mãe morreu e tudo desabou. 
                     

Famílias

          Faz agora um ano que recebi um telefonema em que a minha interlocutora, uma assistente social, me disse para eu não me alarmar, porque ela estava a ver uma luz ao fundo do túnel. Faltava dizer que o túnel era enorme, comprido, interminável...
          Perguntou-me se eu não ficava com os meus sobrinhos-netos para evitar a institucionalização dos miúdos. A minha alma perdeu-se, nesse momento... Fiquei sem pinga de sangue... Tinha sido a minha irmã a sugerir à Segurança Social o meu nome... Eu, aquela irmã... A única coisa que sabia e sei daqueles miúdos é o nome e pouco mais. O mais velho, o Tiago, fui vê-lo quando nasceu, levei fotografias à minha mãe. Desde aí, nunca mais o vi. Os outros, sim, são três, nunca os conheci, o Duarte e o João Pedro. Histórias de terror, gravidezes escondidas, pais por apurar, mãe incompetente, retirados, dados para adoção ou para instituições. A minha mãe daria voltas na sepultura, se estivesse numa! «A médica disse que eu era boa mãe...» teve o desplante de dizer à pobre velhota a propósito do mais pequeno, hiperativo, mais normalmente conhecido como mal-educado, quando ia às consultas com o miúdo, depois de o zurzir de pancada, às custas da avó. Como é que chegamos aqui? Como é que chegámos a este ponto? Não fiquei com os miúdos. Chegámos a pensar há uns anos, quando soubemos que as coisas estavam complicadas e já tinham sido entregues a uma instituição, mas acabámos por não o fazer, tinham visitas regulares dos avós e as coisas pareciam protegê-los. Mas voltaram para casa. E o inevitável chegou. Mas eu não os conheço, são familiares é verdade, mas são, somos estranhos. Não nos conhecemos. Receber estranhos em casa, com um historial de violência, de dependências em casa, de mentiras atrás de mentiras... Já estamos velhos, com receios, porque eles chegam... Fiquei de pensar e de falar com a minha família. «Não se meta nisso!», a decisão não é vossa, é nossa. Partilho com vocês as questões, mas somos nós que decidimos. Fica muito bem bater com a mão no peito, «por minha culpa, por minha tão grande culpa», mas depois nada... Que raio de gente somos nós? Voltei das férias, liguei à assistente social, já nem se lembrava de mim, não referiu o meu nome ao juiz e o processo estava em andamento. Não sei nada deles.
         A primeira vez que falei com a CPCJ, foi-me dito que a minha irmã teria dito que não tinha irmãs. A partir daqui haverá pouco a dizer ou a fazer, daí ter ficado espantada com o telefonema. Foi ela que disse para me ligarem para ver se ficava com os miúdos, os mais velhos.  Do mais novo, foi-me dito que já teria sido adotado... Espero que por uma família «como deve ser...»
           Tranquila? Nem por isso. Esta é a minha família.Três irmãs que não se dão. Sobrinhos que me envergonham. Primos que não se dão. Réplica daquilo que eu detestava ver quando era miúda. 
          O meu pai detestava as minha tias. A única de quem gostava era aquela com quem a mãe de dava pior. Crescemos num ambiente em que irmãos não se falavam, irmãs zangadas. O meu pai não falava com o tio Mário, um sacana de primeira. Deixou de falar ao tio Joaquim, que o considerava um caso patológico, que salvou a vida da minha mãe ao fazer-lhe um aborto, mas que lhe pagou com o silêncio para o resto da vida. E por aí fora... O tio Arsénio não falava com o Armando, a mãe detestava a Antonieta, o pai detestava a tia Ivone e a tia Lourdes, a Tia Manuela foi proscrita, o avô era maluco... E não há famílias perfeitas! Mas nunca pensei que connosco fosse acontecer o mesmo. Não falo à Amélia, irmã que literalmente nos tirou tudo, o pai, a mãe e todos os bens, menos aqueles que consegui trazer com a mãe viva e aquilo que a obriguei a prometer-me que me dava, a mesa e o espelho dourados. Não falo à Paula, mentiras atrás de mentiras a vida toda... 
          Aqui, as mentiras não são perdoadas. Mas existem... Também existem as omissões e muita hipocrisia... Como disse, não há famílias perfeitas. A minha também não o é.

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Ainda no Sul, Sines








Onde não consegui ser feliz, Ilha do Pessegueiro, Porto Covo



domingo, 9 de junho de 2019

Rumo ao Sul, Zambujeira do Mar, Almograve







sábado, 8 de junho de 2019

As praias a Sul, Odeceixe e Amoreira





Altinho, Odeceixe, bom...

Camembert panado com molho de frutos vermelhos

domingo, 5 de maio de 2019

Aprender, segundo a UNESCO

Aprender a conhecer (valorização do conhecimento), aprender a fazer (competências), aprender a ser (realização pessoal, criatividade) e aprender a viver juntos/conviver (coesão social).

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Pensamento do dia


Aprendi que estou na Terra para ajudar os outros. O que ainda não percebi é o que estão os outros aqui a fazer!

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Ser professor, João Pedro Mésseder

Ser professor,
Se não houvesse espelhar de olhos no primeiro dia de aulas, ser professor não seria um sonho.
Se um fio de beleza não pudesse soltar-se daqueles dedos, daquelas vozes cantoras, daqueles corpos em movimento, ser professor não seria um sonho.
Se nunca um verso ganhasse asas no fresco dos seus lábios, ser professor não seria um sonho.
Se um livro, uma pintura, um ambiente virtual ou um filme não abrissem uma porta até então fechada, ser professor não seria um sonho.
Se o tédio não pudesse emagrecer, ser professor não seria um sonho.
Se o saber não construísse pessoas melhores, ser professor não seria um sonho.
Se Arte e Jogo, Língua e Ciência não pudessem ser nomes próprios, nobres palavras, ser professor não seria um sonho.
Se um certo olhar não sorrisse ao conseguir ler pela primeira vez uma frase, fazer uma descoberta, resolver um problema, ser professor não seria um sonho.
Se um rosto não se iluminasse ao ouvir “muito bem!”, “está bem visto!”, “um passe perfeito!”, ser professor não seria um sonho.
Se uma mão negra e outra branca e outra morena não pudessem tocar-se, ser professor não seria um sonho.
Se várias cabeças não conseguissem pensar melhor do que uma, ser professor não seria um sonho.
Se o silêncio e o asseio, a sobriedade e a ordem não pudessem ser aprendidos, ser professor não seria um sonho.
Se o medo e a violência, a solidão e a pobreza não pudessem ser combatidos, ser professor não seria um sonho.
Se justiça e democracia, fraternidade e autoridade não pudessem ser aprendidas, ser professor não seria um sonho.
Se na escola não pudesse germinar a paz e a entreajuda, em vez da competição, ser professor não seria um sonho.
Se a escola não ajudasse a reordenar o mundo, ser professor não seria um sonho.
Se a inteligência não pudesse guiar o sonho, se este não pudesse guiar a inteligência, ser professor não seria um sonho.
Quando nas lides te iniciaste, ser professor tinha a forma de um sonho? Se não tinha, o tempo deu-lhe essa forma. Para muitos, ser professor é tornar real um sonho. O de ajudar a crescer, a fazer do mundo um lugar melhor para se viver.
E não há ofensas, nem indignidades – provindas de efémeros poderes –, nem rankings, nem propagandas capazes de matar esse sonho.
Nem distâncias, nem sacrifícios, nem desassossego, nem noites em claro…
Sem vozes de crianças e jovens à tua volta, sem humana relação, ser professor não seria um sonho.
João Pedro Mésseder

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Pascoela, 4 anos, mãe...


domingo, 21 de abril de 2019

Páscoa 2019


sábado, 20 de abril de 2019

Beija-me burro *****



Beija-me Burro
R. Dr. António Patrício Gouveia 8 Loja B, 2780-185 Oeiras
961 620 947
https://maps.app.goo.gl/sUGb9eoZPFtrv6TS6
Batatas fritas especiais, bem boas, e tirinhas de carne (que não comi)
Bacalhau com puré de grão e grelos, uma maravilha
Queijo Camembert com geleia de pimentos, uma delícia 

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Pode-se assinalar mais do que uma opção?


quinta-feira, 18 de abril de 2019

Dor

A dor que dói
que é dor que se sente
a dor que é dó
da gente que sente
a dor que não entende
a dor que é a falta da gente
a dor de ser gente com dor
de ser dor de gente
que só o quer ser
dor que é saudade
saudade de ter saudade
dor de quem tem medo
medo de sentir dor.

O Pocinho, em Évora 🍱

Boa, Sr. Augusto! Ambiente familiar, comida caseira, simpatia q.b.
Ficamos à espera dos pastelinhos de bacalhau 👍


Gastar as senhas e quanto ao lixo tóxico: detox.

            E cá estou eu outra vez!
        Se melhorei o estado de espírito? Sim... Não vou dizer que estou bem, mas estou melhor! E estar melhor é bom. Tive alta em oncologia, a melhor notícia do ano. Ver-me livre daquele ambiente de morte, de sofrimento, de tanta solidão, porque a maioria dos doentes sofre em silêncio, foi uma coisa preciosa. 
     Fiz escolhas difíceis. Reconheci a minha incapacidade financeira e tive de reverter comportamentos inaceitáveis para quem já ronda os sessenta! Tive de me disciplinar, parar de tentar agradar com presentes, deixar de «passear» para remediar conflitos latentes, enfrentar a realidade, não tenho, não posso! E, apesar de complicado, felizmente os filhos deram uma valiosa ajuda, tem sido bom, é como o regresso às origens, viver com que se tem, não fazer de conta...
      O fim do ano de 18 foi uma bela merda. Para variar, os momentos depressivos estragaram tudo o que de bom podia ter havido. Nos meus anos, um dia cheio de sol, em Sines a almoçar, a angústia chegou ao jantar. Tudo é uma complicação quando se quer complicar... E mais uma vez, engole-se em seco e chora-se depois, muito, acabei a chorar nos 30 anos do Afonso, estraguei-lhe a noite, e não foi só a noite... «Ou a mãe se trata ou eu...». E tinha razão! E tem razão. 
          O Natal foi cá em casa, o Natal é o Natal... Ser cá em casa é um privilégio. A Matilde estava doente, é sempre uma preocupação, febre e choro... Mas foi o melhor Natal de sempre. Fomos à Missa do Galo, nos Álamos, o padre Lavajo é uma simpatia e recebeu-nos com abraços, apertos de mão e beijinhos, Domingos, Afonso, António e eu. Às tantas, pediram-me para participar no peditório, coisa que nunca tinha feito, nem me passava pela cabeça fazer, aceitei, não sem antes perguntar: eu? Quando chegou a hora, muito solenemente, dirigi-me para a minha zona, sozinha, uma data de gente para «atender».O saco andava para trás e para a frente e eu sem dar conta do recado. Quando dei por mim, a pessoa que me tinha feito o pedido estava já em ação. A missa estava parada por causa de mim... Que vergonha. Mas foi o momento da noite, antes da troca de presentes e da ceia.
         O Natal nos Olivais não deixou saudades e o Restelo uma sombra do que foi e do que poderia ter sido. Olhando bem para trás, só me senti lá bem até 88, nesse ano percebi, com muita clareza, que não fazia parte, por isso, esse Natal foi a quatro nas Caldas. O Afonso com dias de vida, a Inês totalmente baralhada, e nós os dois com a certeza que dali para a frente nada seria como dantes. Graça teve ver a tia à porta de casa com um saco cheio de presentes, cheio de má consciência, com um ar de Mãe Natal tardia... Desde aí, o Natal nunca mais foi o mesmo. Sempre à espera do telefonema para saber se era para ir ou não... Fazer as malas a correr, para depois me sentir a mais. 
            Reconhecer a dor, falar dela, escrever sobre ela é assumi-la. Há anos que fazemos de conta, que faço de conta... Zango-me, fico zangada tempos e tempos e não resolvo nada. Nada? Não, também não é bem assim. Pus alguns pontos finais em alguns assuntos.
          Arrumar ideias, limpar a cabeça é meio caminho para libertar espaço para pensar e pôr em perspectiva a nossa vida. Vi-me metida num sarilho a que era totalmente alheia, fiz parte dele contra vontade, vi o pior da falta de ética e de escrúpulos, o vale tudo, o diz que disse, o entre amigas não há segredos, o cobrar... Se pensar bem, friamente, este filme desenrolou-se à minha frente durante meses, um enredo com contornos políticos, embebido da formação nas jotas, dos conluios, das reuniões secretas em que o bufo se acomoda mas não assume, em que se revelam verdades escondidas, relações tenebrosas de poder e contra-poder... A merda dos pequenos poderes que estragam a vida do mais incauto ser que quer viver em paz e sossego, sem alguma vez pôr em causa a sua dignidade, os seus valores, porque esses, sim, dão-nos a paz e o sossego de que precisamos, apesar de todas as contrariedades. Então, ao fim de um tempo, que parecia interminável, acabou... Este já foi o segundo episódio, mas também o último. Como disse já há uns tempos, não sou a consciência de ninguém, muito menos a de quem não tem nenhuma. Ser grilo falante não é para todos, «Let your conscience be your guide»  é um lema de que não prescindo. Agir em conformidade não é fácil, dizer-se o que se pensa nem sempre é politicamente correto ou bom, é mesmo só para o que convém, quando não convém, custa! Assunto encerrado.
           E quando, por opção, ignoramos os outros? Por opção! Não por qualquer outra razão. Porque queremos marcar uma posição. Há retorno? Volta a dar? Ah, estou em falta... Estás? Não me parece. Desculpa! O quê? O que foi feito em consciência? Um marcar de posição, uma demarcação? Não há mesmo volta a dar. Não faço mais de conta. O que está feito, está feito. Vive-se com isso, fica resolvido, porque não tem solução. E vive-se bem? Claro que não. Mas quando somos nós a definir o que é e não é importante, fica mais fácil. Decidimos que magoar os outros não é importante, por isso não faz muito mal, o outro que resolva. Ah, preciso de falar! Não me parece, não há nada que eu queira ouvir, não qualquer desculpa esfarrapada misturada com declarações de amizade profunda e longa, para mim é mais longínqua do que longa. Ficam, sobretudo, os laços de família, que de família pouco me enlaçam. Mas mais uma vez, não faz mal... Fim de vários capítulos. «É uma pessoa, essencialmente, boa», pois! Já eu... não. Mais do estilo rancorosa, que não esquece, que tem dificuldade em entender e, por isso, perdoar... Assunto encerrado. Chamemos-lhe um detox!
           Assim como assim, encerrei alguns assuntos. Mas há mais para resolver e encerrar, bem mais difíceis. Os que não sei como, são intrínsecos, estão de tal forma embrenhados em mim que fazem já parte do meu ser, sempre fizeram, aliás, têm estado em banho-Maria, a marinar, a adensar-se, a deixar-me sem ar. Esses, devagar, devagarinho, vão dando cabo de mim.
             

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Nas vésperas do recomeço...

domingo, 2 de setembro de 2018

Goodbye

A nós, aos que gostam de nós, os outros que se fodam!

31/8/2018, 33!

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Como o ogre o e o gigante

      E ao fim de sete anos, sem mais nada para dizer, porque já tinham dito tudo um ao outro, o gigante regressou a casa... E como o gigante, já tenho pouco para dizer. Fico à espera que as letras das canções falem por mim, que digam o que eu já tentei dizer tantas vezes, que me preencham os silêncios. E fala pelos cotovelos, fecha a matraca, isto era mais ou menos o cenário de antigamente, tudo era assunto, tudo era tema, uma alegria no falar, na conversa, nunca me faltavam as palavras, mas não era falar por falar, era falar para conhecer, por prazer, para descobrir, para marcar posição, defender pontos de vista. Hoje «estás muito calada» e é verdade. Falo mais por falar, mais para não estar calada, mas digo pouco, porque quando digo, já vem tudo tão processado, tão pensado, tão mal digerido que nunca é coisa boa o que sai. Filha de quem sou, de um falar interminável e de um silêncio ensurdecedor, este é o resultado. Cada vez mais parecida com um e outro no pior de cada um. 
        «I´m in this house, I´m in this home all my time», «I'm ok»
      

segunda-feira, 30 de julho de 2018

P'ra mesa!

           «- Sim, gostei de as pessoas se sentarem à volta dela e falarem. (...) um dia, quando for crescido, vou ter uma mesa grande como aquela para mim e para a minha família. Quero sentar-me à volta dela e conversar, como eles fazem.» O Fio do Destino, Laura Schroff, ASA, 2012

         Uma casa de jantar é uma casa de jantar! Longe dos sofás, da televisão,  um espaço privilegiado para se comer e conversar. Quando era miúda, a nossa sala era grande, mas dividida nos dois espaços distintos, o de estar e o de jantar, em casa do Domingos também!  Quando me casei, as casas eram tão minúsculas que era impossível fazer essa divisão, apesar de a mesa, uma pequena camilha, estar num espaço definido, mas a televisão estava sempre lá e não a desligávamos.  A primeira casa de jantar que tive foi nas Caldas, na Rua Fonte do Pinheiro, um prédio decrépito, mas que me serviu lindamente! A casa de jantar era muito pequena, dava para a mesa (já tinha podido comprar uma e o Domingos tinha desenhado umas cadeiras que custaram uma ninharia na altura) e para as cadeiras, não havia espaço para mais nada, as cortinas fi-las eu, com o tecido do Kilo Americano, em verde e cru. Tinha tanto gosto naquele espaço... Ainda hoje conservo o tecido, agora a cobrir as cabeceiras de um dos quartos vazios cá de casa. Em Montemor, a cozinha era tão grande que era lá que fazíamos as refeições, esporadicamente na sala, onde repousava a mesa nova herdada da Assunção, e que ainda hoje é a nossa mesa de jantar.  Nesta casa, felizmente conseguimos ter o meu espaço de estar a comer, primeiro na divisão mais pequenina da casa, o sr. Luís dos móveis São Francisco, que acabou por nos ir fazendo ao longo de mais de uma década os móveis, dizia que a nossa casa de jantar parecia uma casinha de bonecas, e parecia mesmo. Hoje a casa de jantar é a divisão maior, forrada a papel de parede da Laura Ashley, comprado a preço de saldo no e-bay.
     Nos Olivais, estar à mesa significava, sobretudo comer. As conversas normalmente não acabavam bem... Também não acabavam bem os jantares que implicavam explicações forçadas de Matemática! Por isso o estar à mesa não era aquele momento. Uma vez, de tão farta que estava do mesmo, levantei-me para ir acabar de «comer» na cozinha. Levei com os berros do costume e voltei a sentar-me. Variedade era coisa que não havia, nem nos assuntos nem na ementa, normalmente eram bifes com batatas fritas ao jantar, grão com bacalhau às quartas ao almoço, aos fins de semana havia feijoada, carne guisada, cozido, carne assada no Natal e peixe assado na Sexta-Feira Santa. Sopa, sempre, mas só para as magras, a Paula e eu. A mais velha estava dispensada, porque era gorda. Aos sábados, no tempo da Clarinda, faziam-se pastéis de massa tenra e rissóis, mas foi um tempo que acabou depressa. O arroz era  uma espécie de «unidos venceremos» e a massa que a mãe fazia costumava ficar a nadar no prato, o ketchup ia disfarçando, mas só nos livrámos deles quando começámos a ser nós a cozinhar. Aí víamos o meu pai a pôr de lado as coisas esquisitas que queríamos fazer e dar a conhecer, não gostava de mistelas, de disfarçados, de esquisitices, de modernices e, às 19.30h, tinha de estar à mesa! Começava a olhar para o relógio com uma impaciência que dava dó! Até parecia que o Carmo e a Trindade cairiam se não almoçasse ao meio-dia e meia e jantasse às sete e meia! Encontrei isso, há vinte anos em Montemor-o-Novo, quando um dos nossos vizinhos, um senhor já de idade avançada apareceu à porta de casa a reclamar com a mulher que eram horas de jantar! Deve ser por isso que agora não me preocupo minimamente com horários, quando está pronto está pronto! Até parece que estamos em Évora, dizem os meus filhos quando, em Lisboa, em casa deles, almoçamos ou jantamos tarde. 
          «P'ra mesa!», «Tou a ir», «Vou já» normalmente eram as respostas, agora em casa somos só os dois, não precisamos de gritar para nos chamarmos, estamos aqui, à mesa. Mas já lá vai o tempo em que era preciso chamar montes de vezes, «ou vens ou não comes!», «não chamo outra vez!»... Mas a mesa é a mesa! Pôr a mesa, com tudo no sítio certo, os lugares definidos, as horas mais ou menos concertadas. Nas Caldas era um horror, não havia horas para nada, só para mim e para os miúdos, tantas vezes sem o pai à mesa... Foram tempos muito difíceis, sobretudo para mim, porque para os miúdos era sempre fácil recompensá-los com a risota do costume.
               Fico sempre fascinada com uma mesa cheia de gente, as conversas, as gargalhadas, o bem-estar e o bem comer, adoro! E tenho sempre saudades dos tempos em que juntávamos gente cá em casa e não saíamos da mesa durante horas. Mas já não digo a ninguém para vir... No inverno é muito frio, no verão muito calor, fico sempre a achar que as pessoas vêm contrariadas, quando ouvi a Graça a dizer que se era para trazer a mãe, havia mais gente... Perdi a vontade, disso e de muito mais. Mas tenho sempre a porta, literalmente, aberta! E arranja-se sempre qualquer coisa para aconchegar quem chega, apesar de chegarem poucas vezes...

domingo, 29 de julho de 2018

Ao fim e ao cabo, resume-se tudo a isto: amor ou falta dele.

              Chamem-lhe o que quiserem... Quando se é profundamente amado a vida tem outro sabor! Mesmo os que nascem com limitações, essas atenuam-se com o amor... Lembro-me de uma história de um bebé abandonado que tinha as feições marcadas pela deficiência, mas que de um dia para o outro, depois de ser adotado por uma FAMÍLIA, recuperou as suas feições, o seu ar saudável com que tinha nascido, pronto para a vida! Graças ao amor com que foi acolhido, recebido, criado... É esta a linha que nos separa, a linha do amor. Nada tem a ver com correntes de psicologia, de pedagogia! Nada disso, pura e simplesmente amor. «Amai-vos uns aos outros» nada mais simples, nada mais puro e cru, tão só amor. A falta dele é um veneno, corrói, transmite-se de geração em geração, deixa marcas indeléveis, cria correntes de ódio, de desprezo, os abusados tornam-se em abusadores numa réplica interminável de maldade, crueldade, de terror...
              Crescer no amor não é pedir muito! Fiz muitas coisas mal... Tantas! Mas penso que os meus filhos sobreviveram a tudo isso, porque sabiam que, apesar dos meus gritos, choros, de dizer coisas horrorosas «achas que eu pensava que ser mãe era assim?» e ser demasiado exigente nos comportamentos, eles eram e são, sobretudo, muito amados. Vi-me muitas vezes sozinha, com três filhos numa terra que detestava, num ambiente hostil, sem família que me apoiasse, quer de um lado quer do outro, sim, nem me venham com merdas... Mas eles sabiam que, apesar de tudo, ao fim e ao cabo, tinham um pai e uma mãe que os amavam incondicionalmente. «Gosto mais do pai do que da mãe» dizia o Afonso, e tinha razões para isso, eu, desequilibrada, como sempre fui, emocionalmente, lidava, e ainda lido, muito mal com as falhas nos compromissos, horários, presenças... Tive de engolir muito, demais... Acho que muitas das coisa que nunca engoli fazem-me andar muitas vezes engasgada. «Nunca dei conta do que fazia à minha mãe, não é a ti...», tinha o Afonso meses! 

Agora, imagine-se...

           Com uns catorze ou quinze anos, a ordem foi a seguinte: 
«vens lavar-me as costas!»! Mas o que é que é isto? Isto é o quê?
          Olhei para ela? Para a minha irmã mais velha, a menina dos seus olhos, a mais inteligente, a mais sábia, a melhor em tudo? «O que foi? Vais!» E fui quando me chamou. Naqueles segundos antes de entrar na casa de banho pensei que o ia ver nu! O que é que ele me queria? Onde é que se via uma coisa daquelas, um pai a mandar uma filha adolescente entrar na casa de banho e ir lavar-lhe as costas... E pior! A outra, sem qualquer hesitação, a dizer-me para ir! E por que é que não ia ela? Fui. Aterrorizada. Entrei e dei com ele de cuecas, aquelas a que hoje chamamos boxers. Lavei-lhe as costas, uma treta! Saí dali o mais depressa que pude. Nessa altura não se falava em pedófilos, em abusadores, só havia pessoas más e lobos maus que comiam criancinhas. Havia também o meu avô Luís, maluco, a quem a minha mãe não podia fazer uma visita sozinha, porque ele não era bom da cabeça e nunca se sabe... No fundo, ele sabia bem de que matéria era feito. Via nos outros o que ele, de facto, era, um abusador, um agressor, um vexador... De quem não se podia falar, cuja imagem, com os fatos do Lima, era impecável. 
           Não me venham com merdas! A parva da minha irmã mais velha diz que não tem razão de queixa dele, porque ela sempre se portou bem... Pois eu portei-me mal e, por isso mesmo, devia ter tido um pilar que me orientasse, um pai que me desse colo e que me dissesse que, se tinha feito mal, havia de fazer bem, que ninguém nasce ensinado, que temos de cair e de nos levantar montes de vezes até conseguirmos andar... Nunca soube fazer nada disso. «Podias voar alto!», mas nunca me deu o balanço necessário para o fazer...
           Não se deve falar mal dos mortos... Porquê? Se foram eles que nos criaram os medos, as angústias, os que nos fizeram desejar a sua própria morte. Não se deve falar mal da família, porque lhes devemos tudo... O quê? A indiferença, o desprezo, o vexame? Ingrata! Se calhar, porque nem tudo foi mau. A escola foi sempre uma prioridade e, quando hesitei entre ir ou não para a faculdade, foi ele que me perguntou se eu quereria ficar a minha vida toda atrás de um balcão. E fui para a faculdade. 
            No batizado da Matilde, o Domingos leu um trecho, escrito pela Inês e pelo António, que se referia aos bisavós «para que sejam sempre exemplos de amor, de família, de amizade e de muita alegria na vida da Matilde», todos menos o bisavô Paulo.

Vira o disco e toca o mesmo

           Quero crer que um dia, nesse dia em que a minha cabeça estiver realmente arrumada, conseguirei seguir em frente, mas para isso tenho de saber conviver com todos os meus fantasmas que, como as bruxas, existem e atormentam!
         Não quero, como a minha mãe dizia, esquecer! Perder a memória ou torná-la tão seletiva assim seria esquecer parte da minha vida e sem memória não existimos plenamente. Mas queria saber conviver com dignidade com as memórias más, com as menos boas, aquelas que, cada vez mais, me incomodam, me atormentam, que, tantas vezes, me roubam o ar!
              A começar por aquelas em que o meu pai é o herói. Raras são as boas! Talvez as dos Natais de quando era pequena, em que apesar de tudo, com a companhia do tio António, o ambiente era mais festivo! Quando íamos beber as lambretas (hoje em dia, impensável), ou quando íamos comer fora, bitoque ou frango assado! Ou talvez quando íamos comer marisco! E quando íamos ao café em 78/79, não sei porquê, talvez porque com a saída da Paula de casa o ambiente se tornara diferente... Mas as coisas corriam sempre melhor fora de casa, os dias passados em casa eram, por norma, sem qualquer alegria. As rotinas, por vezes, eram penosas, sobretudo a partir do dia em que o meu pai foi «dispensado» do trabalho. Enfiou-se dentro de casa, percorria o corredor, para trás e para a frente, saía a determinadas horas para ir beber café, ia, às vezes, ter com o tio António à Baixa, mas não saía disto. Sentava-se a ver televisão e a fumar, de boquilha permanentemente na boca, uma nuvem sempre de volta dele. A mãe chegava do trabalho, a primeira coisa que fazia era ir dar-lhe um beijo na testa, sem resposta, mesmo que estivesse profundamente magoada com ele, e devia estar muitas vezes, nunca deixou de fazer o seu cumprimento. Nunca o vi dar-lhe a mão, um beijo, um carinho, um elogio, nada. Uma secura completa, um vazio... Ela dava-lhe o braço quando andavam na rua, mais nada. Os silêncios eram mais frequentes dos que as conversas, que, normalmente, acabavam mal, com um murro na mesa, com um «a culpa é tua» e depois seguiam-se meses de silêncio. Continuo convencida de que os seus segredos eram tão poderosos que, quando as coisas azedavam a sério, prevalecia a vontade da mãe. Apesar dos gritos, dos silêncios, nunca chegou a agredir fisicamente a mãe. Já eu e a Paula não podemos dizer a mesma coisa. Já referi o voo que fiz por lhe ter chamado urso, mas com quatro anos já não tolerava os seus gritos com a mãe, levei um tal estalo que voei da cadeira ao jantar, lembro-me como se fosse hoje. Nunca lhe perdoei, não pelo voo, mas pela recorrência dos berros. Era  um homem calado, mais  valia que não abrisse a boca, porque quando o fazia era só para magoar, insultar, rebaixar... Raras vezes o vimos rir, quando estava com os irmãos ou com os sobrinhos, sim. Connosco era raro. Era um homem de aparências. Escondido debaixo de um fato feito à medida pelo Lima, vivia um homem com um passado de que não falava, alguém que não tomou decisões, nem em relação aos seus estudos nem ao seu casamento. Deixou que o fizessem por ele. Cheio de rancores, viveu a sua vida a «castigar» os mais próximos, mas sobretudo as mais frágeis, a mãe, a Paula e eu. Porque na menina dos seus olhos ninguém tocava! 
         Enfrentei-o várias vezes, apanhei por isso! Não me arrependo, só me arrependo de não o ter enfrentado mais vezes, já que era para levar, então que fosse por tudo e não só por aquilo que muitas vezes nem entendia. Pontapés, estalos... Mas os pontapés eram mesmo o que mais parecia refletir o desprezo que ele sentia e que, finalmente, acabei também por sentir. Quando batia na Paula e a deixava estendida no chão... Incompreensível! Para! Não lhe bates mais! E a mãe a suplicar! Nada... Só pondo-me à frente, e isso a mãe não fazia. Claro que quem levava era eu, por me pôr à frente, mas, principalmente, por lhe fazer frente... Um monstro. Não era um urso, era mesmo um monstro. Teria continuado com os netos, disse-lhe várias vezes «não lhes bates!», vontade não lhe faltava. Não sabia falar, a violência era sempre mais segura e, seguramente, mais eficaz.
         
                

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Recomeçar? Ou começar de novo?

          Já lá vai quase um ano... Já fiz 57! O Zé Pedro morreu logo a seguir! Já fui avó! Já me zanguei mais mil vezes! E não fiz qualquer registo de felicidade, angústia, tristeza. Já fechei o blogue aos olhos de quem me olha de esguelha, sobretudo para ter tempo de pensar no que tenho escrito, feito, sido...
          Este é o meu «diário» que de diário tem sido pouco, mas é o espaço onde relembro e registo o que vivo e sinto. Às vezes a dor é enorme, a escrita alivia-a, mas, apesar de sentir essa enorme vontade de escrever, não sei se partilhar «tudo» neste mundo será o que quero. As minhas «coisas» são, de facto, minhas. Preciso de as escrever. Preciso de as processar, de as pôr em perspetiva. Não sei se as posso dar a ler a quem nada entende, a quem, como eu, faz juízos de valor, sem que consiga, minimamente, entender o que vai no coração e na cabeça de quem sofre mágoas de escola, mágoas de família, e, sobretudo, de uma solidão encapotada, longe de quem mais gosta, do que mais gosta, percebendo que muito dificilmente vai recuperar o que, aos poucos, vai perdendo, a autoestima e o amor próprio.
          Houve cortes profundos, radicais. A família alargada deixou de existir. Deixou de fazer sentido. O corte foi tal que nem sei quem, dos mais velhos, ainda está vivo! Soube que a A., que tanto atormentou a minha mãe, morreu. Soube-o pela Mila que encontrei em Santana, onde ela tem uma casa de férias que conhecemos em miúdas, quando ela deixou de ir para a Várzea. Já do Armando nada sei. O Mário ainda me mandou um sms nos meus 57. Mais nada. A Paula, descaradamente, depois de anos sem uma palavra, ou sequer uma conversa sobre a morte da mãe, contactou-me para fazer o que sempre soube fazer, cravar! Dos meus sobrinhos nada sei... E, assim como assim, não quero saber! Anos de mentiras, intrigas, abusos, manipulação... Chega. Foi tudo demais. A minha mãe teve uma boa dose de responsabilidade nesta tragédia anunciada. Fez escolhas, escolheu proteger uns, porque sim, porque tinha de ser assim, deu no que deu! Imaginou que a vida dela seria na sua casa até morrer com a filha que nunca lhe tinha dado problemas. Dessa nem quero falar... Deu no que deu, um triste fim anunciado, a maior parte do tempo sozinha, em conflito constante, triste, triste, triste! «Fui muito infeliz» disse ela no dia antes de morrer. E foi-o. E todos nós contribuímos em larga escala para essa infelicidade. Eu tenho uma bela quota-parte na coisa. Corrigi muitos dos meus comportamentos nos últimos anos, mas não foi o suficiente para apagar o que nunca poderia ser apagado. Incompatibilidades viscerais minaram as nossas vidas, salvaram-se os netos, os meus filhos, que, apesar de tudo, nunca a rejeitaram e no final foi com eles que a avó pôde contar.
           Olho para mim, não gosto do que vejo. Tenho razões, carradas delas, para inverter este percurso, mas deixo-me ir, engordo descomunalmente, como que para me castigar, porque me estou nas tintas para mim própria, e para muitos dos outros. Depois, vejo-me grega para emagrecer, até porque, como não me olho, nem vejo o estado lastimável a que chego, com a maior das facilidades, a não ser quando vou ao médico e me mandam subir para a balança. Aí... Não há como fugir da realidade, da vergonha, do peso...Fico em casa, escondida, longe dos olhares, dos comentários nas costas e, sobretudo, da pouca correção com que os outros acham que podem tratar quem é «diferente». Mas, convenhamos, só posso queixar-me de mim própria. Deixo-me ir abaixo por dá cá aquela palha, quando devia dar uns bons murros na mesa! Às vezes nem sei bem o que quero. 
            Já me aconteceram coisas inconcebíveis! Receber uma carta anónima foi uma delas! Mas depois quero acreditar no que sempre acreditei, no fundo ficam as dúvidas que nunca se dissipam e acabo por viver com elas todos os dias! E tudo aquilo que eu disse que nunca admitiria vou consentindo, na esperança que os dias sejam bons dias. Mas nem sempre o são. Porque a memória é viva e está sempre presente e, de repente, assalta-me como se eu precisasse de reviver o que mais me feriu... 
         Vim para o Alentejo para nos salvar das más línguas caldenses, de uma perseguição desenfreada à nossa família por alguém que assegurava saber de comportamentos menos próprios... Era a nossa família ou nada... Escolhemos a nossa família, o calor, a distância, a falta do mar, da praia na esperança que tudo passasse... Passaram-se anos... Os filhos saíram de casa, extraordinários! Apesar da minha inconstância, desequilíbrios, bipolaridade, são Pessoas de valores. A mãe dizia que tinham sido educados pelo pai... Por vezes, magoam-me! Oh como! Mas faz parte. Crescemos, com embates, com divergências, com muitas lágrimas e saudades. Mas faz parte.
          Agora sou avó! Tenho uma Matilde. Linda, doce! Longe! Fiz casacos e casaquinhos  à espera que ela chegasse, tal e qual como o fiz à espera da Inês. Conto os dias que faltam para a próxima visita, espero, ansiosamente, pela fotografia do dia, pelas novidades. Gostava de ser uma avó (p)Lena, presente, disponível. Para já, sou uma avó condicionada pela distância e pelo respeito que tenho pela privacidade dos pais. Não quero ser abusadora, invasiva... Seja lá o que isso for! 
           Tenho um longo trabalho pela frente: pôr a minha cabeça em ordem, a partir daí, se a saúde não me falhar, as coisas começam a encaixar umas nas outras. Não vou escrever sobre a escola, é uma angústia e não tenho solução, para já, para o que se aproxima! Em setembro penso no assunto, agora é só mais uma razão para andar deprimida.

sábado, 16 de setembro de 2017

#tillylittletilly ❤ Avô Mico

Nid d'ange❤

Casaquinhos, miscolas e camisasolas

Ludovico Einaudi, genial

terça-feira, 25 de julho de 2017

Novinho, quem diria?